Aprendendo a Lutar sem Armas .

<<< voltar para a página anterior

Texto de Aylla

Outra coisa que o ser humano terá que aprender é a ter paciência para aprender a lutar sem armas.

Agora vou ensinar algumas técnicas de luta sem sangue, feridas ou dores externas, indo totalmente contra tudo que os seres humanos conhecem como lutas ou batalhas sangrentas. Isso serve tanto para o futuro quanto para o presente que estamos vivendo hoje no planeta.

No futuro, logo que for construída a verdadeira sociedade perfeita, será ensinando a todos os seres humanos que desejarem aprender, as várias formas de defesa sem que haja necessidade de lutar. A principal é a defesa da consciência. Essa defesa consiste em dar consciência aos seres humanos de seus erros.

Para que todos entendam melhor vou citar exemplos do que estamos vivendo hoje. A grande maioria da humanidade vive uma vida agitada, que os estimula a ser pessoas competitivas e agressivas, pois acreditam ser esse o único meio de subir na vida. O mercado de trabalho se torna cada dia mais exigente. Os cursos de especialização são aulas de verdadeira competição. O homem tem que ser mais materialista e racional, frio e ao mesmo tempo falso. Com todas essas exigências o ser humano que não era frio termina por se tornar. Esses valores tendem a visar apenas lucros e mais lucros. Com isso não encontram tempo para a própria consciência que, adormecida, reclama através da ignorância, que libera em situações cotidianas. Assim o homem de fato não tem mais tanta certeza do que é certo ou errado e vai caminhando pela vida pisando e sendo pisado, agredindo e sendo agredido e o pior é que não tem consciência das causas e motivos que o levam a isso. Dessa maneira as pessoas, amedrontadas com os índices crescentes de violência, reagem da maneira que julgam ser certa e partem a procura de especialização em lutas de defesa. Aprendem a lutar com as mãos, com armas, com as pernas e até com palavras, enfim, levam o corpo a batalha.

Mas eu pergunto: onde esta a luta da consciência, a luta realmente inteligente? Será que alguém conhece ou ao menos sabe do que estou falando? Se não sabe agora vai saber, pois vou me fazer entender.

A verdadeira luta da consciência começa primeiro em nós mesmos como um diálogo muito particular e íntimo, da alma para o corpo e do corpo para a mente.

Como começar esse dialogo talvez seja a parte mais difícil da consciência, mas vamos dar uma ajuda para que todos entendam melhor tudo isso. Vamos dar um exemplo do como vencer uma luta pela consciência.

A grande maioria dos seres humanos teria muito prazer em ver um líder perverso aprisionado e torturado para que ele pagasse seus crimes e suas maldades, porém eu lhes digo que este é um pensamento errado, pois um ser cruel só vai sofrer de verdade quando realmente tiver consciência de que tudo que fez irá voltar para ele em dobro, seja hoje ou amanhã, nessa vida ou em outra.

Digamos que em determinado momento de nossas vidas nós sejamos colocados à prova e essa prova consiste em ter de julgar os erros de alguém. Agora eu pergunto: o que você faria? Julgaria ou não este ser, mesmo sabendo que ele é um criminoso, mas que mal alguém lhe fez ate o momento e é exatamente por essa razão que os outros o convidam para julgá-lo? Como se sair bem em uma situação dessas? É isso que agora vou descrever com um dos mais belos exemplos que temos para oferecer a humanidade.

Caminhando com um de seus inúmeros aprendizes um velho sábio trilhava em direção a um vilarejo em busca de abrigo para passar a noite. Seu discípulo, ainda muito jovem, tinha fome de sabedoria. Por isso seguia seu mestre nesse longo caminho. Chegaram no vilarejo ao entardecer, hora em que as pessoas se resguardavam em suas casas. O jovem discípulo disse ao mestre que seria difícil que alguém confiasse abrigo a dois forasteiros, mas o mestre pacientemente disse “Acalma-te, meu jovem, aqui estamos apenas de passagem para cumprir uma curta missão que o destino colocou em nossas mãos e não podemos quebrar o que a nós confiado. Por isso te aquietes que a missão a nós virá “. Falando isso continuaram a caminhar ate uma pequena praça onde um homem sujo e mal vestido lhes dirigiu a palavra perguntando: “Vocês são forasteiros? Se são vão logo sabendo que as pessoas aqui temem quem não conhecem. Por isso será difícil acharem abrigo paras ficar essa noite, mas se não se incomodarem eu lhes oferecer meu humilde lar, que não tem conforto algum, mas pode abriga-los por algum tempo. “ O velho sábio disse: “ Nós aceitamos seu generosidade e bondade para conosco e não nos preocupa como é seu lar, afinal estamos de passagem. Não queremos abusar da boa vontade do amigo, se assim posso chama-lo, mas quero que fique ciente de que nada temos a lhe oferecer a não ser nosso trabalho.”

“Tudo bem. Podem vir. Eu vou levá-los ate minha casa. Lá irão sentir-se mais a vontade.”

Chegaram numa pequena cabana com um velho fogão de lenha. Aqueceram a noite fria, beberam um caldo de ralo de legumes para não dormirem com fome, forraram o chão com palha e se cobriram com velhos trapos de cobertor. No outro dia bem cedo apenas o velho sábio e seu aprendiz se viram na casa. Eles aproveitaram para melhorar a vida de seu dedicado amigo, que tudo que possuía lhes ofereceu. Em retribuição o mestre e o aprendiz fizeram alguns consertos na velha cabana, tornando-a mais agradável. Com madeira construíram bancos e mesa, fizeram alguns utensílios de uso doméstico e deram uma verdadeira limpeza no local. Ao cair da noite o homem chegou em casa trazendo legumes e peixe. Também trazia ervas para o chá, mas para seu espanto tudo já estava esperando por ele. Quando ele entrou em sua cabana foi tomado de uma alegria muito grande e, quase sem palavras, ele perguntou. “Como vocês fizeram tudo isso em tão pouco tempo?”

“Com a vontade de ajudar,” respondeu o velho sábio. “Entre e tome o caldo enquanto ainda está quente e aliviarás tua fome.”

“Como cozinharam? Não havia mais nada para isso.”

“Acho que tu não conheces bem o lugar onde moras. A natureza que te rodeia tem muito a oferecer. Tu precisas apenas pedir,” disse o velho sábio.

“Moro aqui há tanto tempo e nunca enxerguei isso. Devo estar cego,” disse o pobre homem. “Eu lhes agradeço por tudo que fizeram, mas não tenho como pagar. Posso apenas oferecer abrigo e sopa, nada mais.”

“Não te preocupes conosco. Estamos acostumados com tudo que a vida nos oferece e agradecemos a ela por não nos esquecer.”

Mais um dia se passou e tudo muito bem ate que o mestre falou ao seu discípulo:

“Amanhã nós vamos conhecer nossa missão. Acorde cedo e logo que nosso amigo partir iremos atrás dele sem que ele nos perceba.”

“Mas mestre, nossa missão não era apenas dar-lhe um moradia melhor?” perguntou o aprendiz.

“Não meu jovem. Nossa missão é ensiná-lo a ter uma vida melhor. Temos que libertar sua alma. Por isso peço-te que amanhã não te enganes com as aparências, tampouco te deixes influenciar com a situação que virás.”

No outro dia bem cedo o velho sábio e seu discípulo saíram logo atrás do homem que lhes deu abrigo. Seguiram ele até a praça, onde ele parou, se sentou com uma cuia na mão e começou a pedir esmolas. Até ai não havia nada de errado, se não fosse por ele estar se passando por cego para conseguir isso. Para se certificar do que vira o mestre perguntou a uma pessoa por perto qual era o problema daquele homem e a pessoa respondeu: “Ele é cego, coitado. Vive do que as pessoas lhe dão, mas vive sozinho e não depende de ninguém para andar por aí.”

Ouvindo isso o aprendiz ficou indignado com o mendigo, que enganava as pessoas para poder viver sem trabalhar. Olhou para o mestre e disse: “Porque não acabamos com essa farsa agora, mestre. Afinal ele abusa da boa vontade das pessoas e elas tem o direito de saber quem ele realmente é. Não podem ser mais enganadas.” O velho sábio respondeu: “Tu estás julgando quem te ofereceu guarida antes mesmo que ele se explique, pois para tudo tem uma razão.”

“Que razão há em enganar as pessoas, mestre?” questionou o aprendiz.

O mestre então perguntou ao aprendiz: “Ele te fez algum mal para que tu queiras tanto condena-lo? E se tu o condenares hoje como achas que ele irá viver com tantas pessoas sentindo raiva dele e será que essas mesmas pessoas, tão boas e generosas, não poderiam, vir a mata-lo por se sentirem traídas e enganadas? E ainda tu te esqueces que lá na frente do teu caminho tu podes encontrar alguém que pegue um pequeno deslize teu o também te condene e não me digas que tu não iras errar, pois enquanto estamos vivos estaremos aptos a cometer erros e ter muitas falhas. Tu não podes pensar em tudo de maneira radical e destrutiva, pois de maneira alguma aprenderás dessa forma e tampouco poderá ensinar.”

“Então como devemos agir, para mudar essa situação?”

“Espere a noite chegar e logo saberás. Então vamos voltar e espera-lo.” À noite o mestre preparou um caldo forte e bem quente para todos. Seu aprendiz, ainda indignado, silenciou na presença do homem que julgava um monstro enganador, mas o mestre se adiantou no assunto e perguntou a seu amigo o que ele fazia durante o dia para sobreviver.

Esse respondeu que ajudava um outro a carregar suas compras no grande mercado de legumes. O mestre perguntou a ele como podia fazer isso se as pessoas saibam que ele era cego. Nesse instante o homem ficou assustado e, num sobressalto, foi logo perguntando: “ Como sabem disso? Quem foi que contou?”. O mestre pediu a ele que ficasse calmo, que nada tinha contado a ele. Só queria saber por que fazia isso com as pessoas. Ele então respondeu: "Não é por mal, mas é que não tenho estudo. Sempre fui rejeitado em todos os lugares que eu ia procurar emprego. Pela minha aparência e pobreza ninguém nunca quis me dar uma chance e, não tendo mais o que comer, saí do antigo vilarejo onde morei por muitos anos. Quando cheguei aqui me apaixonei por uma moça nobre, mas seus pais me afastaram dela e pediram ao carrasco que queimasse meus olhos. O carrasco, me vendo um ser pobre, mendigo e inofensivo, não furou meus olhos, mas teve que marcar o meu rosto para que o povo acreditasse que eu fiquei cego. As condições para eu viver são essas: morar sozinho nessa cabana no meio do mato e fingir que não vejo o grande amor da minha vida passar na minha frente todos os dias. Agora, se quiserem me denunciar, saibam que verão meu corpo amanhã bem cedo mutilado no chão.”

O mestre disse: “Eu posso o compreender e não estou aqui para lutar contra você, mas existe algo que posso fazer para te ajudar. Eu vim lhe dar consciência do certo e do errado. Depois disso você mesmo poderá escolher como viver.”

“Meu caro amigo, sua história é muito triste, mas isso não é motivo para você enganar as pessoas para sobreviver. Em primeiro lugar tudo que precisas está aqui ao teu redor. Plantes o teu próprio alimento, fazes uma grande horta e com carinho a terás para sempre. Logo lá em baixo parra o riacho onde tens água fresca e peixes. Se queres roupas novas crie algo para tocar. As pessoas não precisam saber que tu enxergas, apenas desenvolva habilidades que qualquer cego de verdade pode desenvolver e assim manterás o teu segredo e não enganarás a mais ninguém, pois o mau que fazes as pessoas é buscar da boa fé das mesmas e um dia tudo se acaba, tudo se descobre e no futuro essa boa fé pode se transformar em uma sentença de morte e se não for nessa tua existência será na próxima, onde tu podes ser enganado e com certeza não iras agir com tanta calma. Pense bem no que eu te disse, pois agora eu vou-me embora. Minha missão contigo já acabou e eu ainda tenho que continuar meu caminho, pois encontrarei uma batalha muito grande pela frente e já não posso me demorar”.

“Muito obrigado, senhor, por ter me aberto os olhos. Acho que realmente estava cego, pois não conhecia essa verdade que o senhor me mostrou. Agora vou mudar minha vida, pode ter certeza.”

No outro dia bem cedo o mestre e seu aprendiz partiram e trilharam seu caminho. O aprendiz perguntou ao mestre: “O senhor realmente acredita que ele vai mudar?” O mestre respondeu: “Isso só diz respeito a ele, pois antes ele não tinha consciência. Agora ele a tem e tudo irá depender de como ele irá pesar em sua vida e seus amigos. Agora vamos continuar nosso caminho, pois muito ainda nos aguarda durante um mês.”

O mestre e seu discípulo caminharam sobrevivendo a chuvas, frio e fome até que chegaram ao destino, uma grande vila com casas muito bem feitas, da aparência distinta.

Percebia-se que naquela vila só moravam pessoas que tivessem condições razoáveis de vida. Seria difícil arranjar ali um lugar para ficar, pois todas as pessoas pareciam orgulhosas demais para dividir suas vidas com alguém.

Dias se passaram e o velho sábio e seu discípulo dormiram ao relento embaixo de um grande e velho carvalho até que deles se aproximou um homem rude, alto e forte e meio agressivo, dizendo: “Vão embora daqui. Nessa cidade não aceitamos intrusos nem toleramos mendigos.” O velho sábio respondeu: “Não se preocupe, homem. Não somos intrusos tampouco mendigos. Estamos apenas de passagem. Logo irá se cumprir nosso destino. Assim iremos embora, pois não é nossa intenção trazer-lhes embaraço ou confusão.”

“Velho, você não esta me entendendo. Estou lhe dizendo pra partir. Caso não faça isso estarás me obrigando a bota-lo para fora com minhas próprias mãos.”

“Meu senhor, não vim aqui para lutar. Não gosto de violência nem das armas usadas para matar”, disse o velho.

“Seu velho covarde. Tu não entendes que vais morrer se eu te ver amanhã aqui? É melhor que vás, pois te dou até amanha bem cedo e nenhum dia mais.” Falando isso o homem saiu e deixou o sábio tentando acalmar sua aflito aprendiz dizendo-lhe: “ Não te preocupes. Amanha mesmo nossa missão aqui estará terminada.”

“Isso se nós não estivermos mortos antes, não é mestre,” disse o aprendiz.

O mestre silenciou e meditou até o dia amanhecer. O homem rude se aproximou do velho sábio e de seu aprendiz já dizendo: “Tua teimosia vai ter custar muito caro, velho.Agora é tarde para fugir.” O velho sábio olhou-o profundamente nos olhos como se lesse seu mente e disse: “Então vá em frente. Cumpra seu destino, mas antes quero apenas lhe dizer algumas palavras. Se realmente desejas me matar precisas saber que eu nada tenho contra ti e que não prejudicarei minha sabedoria te jogando pragas nem te condenando. Posso te deixar claro que não guardarei lembranças alguma da tua maldade, pois não quero ter qualquer assunto pendente contigo, pois esse é meu ultimo encontro com você. Sendo assim não irás criar um karma comigo, porém a lei do karma é infalível e não será diferente contigo. Mesmo que eu te perdoe hoje o futuro não perdoará, pois tuas ações te conduzirão a passar e enfrentar o mesmo mal que tu me farás e o mal que já fez a outros. Essa é a maneira que o Grande Pai encontrou de nos fazer reparar o mal que cometemos. Mas agora já acabei. Eu vim para te dar consciência e isso eu acabei de fazer. Pode então cumprir o destino que queres.”

Ao ouvir tudo o homem ficou pasmo, pois jamais matou alguém que se entregasse com tanta facilidade e que o perdoasse por antecipação. Algo estava errado com aquele homem, porque quando ele falou tudo aquilo ele não tinha medo nos olhos, ao contrário de seu aprendiz, que estava em pânico. Ele era de fato um velho sábio, mas o que ele queria dizer com aquelas palavras?

“Velho, o queres nesta cidade? Porque vieres aqui?” perguntou o homem.

“Eu já te disse, senhor, eu vim cumprir um missão e acabei de realiza-la dando ao senhor consciência de teus atos.”

“Por que não lutas pela tua vida, velho?”

“Porque aquele que entra numa batalha sem antes pensar já a perdeu antes mesmo dela começar,” disse o sábio.

“De que missão estas falando? Por que dizes que tinhas que me dar consciência?”

“Porque você errava, mas não tinha consciência de star errando tanto. A partir de hoje você errará, mas terá certeza de que cedo ou tarde terás que corrigir teus erros, enfrentando-os na própria pele.”

“Todos os seres que já matei sempre lutaram contra mim, sempre me odiaram, mas nenhum deles disse que me perdoava nem tampouco teve tanta confiança e calma nos olhos” constatou o homem.

“Meu senhor, se jogamos mais carvão em um braseiro obviamente a tendência é aumentar o volume de brasas, mas se vamos jogando pequenas doses de água essa brasas vão esfriando aos poucos e o equilíbrio vai se fazendo bem suave.”

“Eu já não sei se quero te matar, velho. Acho que você pode me ensinar alguma coisa. Por isso quero que venhas comigo até meu estabelecimento, onde também moro.”

Quando lá chegaram o homem lhes ofereceu comida e vinho para que matassem a fome. Mais tarde o velho sábio se dirigiu ao homem e com ele passou a conversar.

“Não te preocupes, não tenho raiva de ti. Tu apenas querias me matar por não me conheceres. Teu medo te fez reagir. Antes que eu te atacasse tu preferias me atacar. Essa á a maneira que encontrastes de te defender. Antes tu não tinhas acesso à verdade, mas essa hoje veio a ti. Minha missão é te esclarecer, mesmo que tu querias me tirar à vida. Tenho que te advertir que não podes continuar na ignorância. Por isso te digo: todos os erros que cometeste no passado irão se refletir no teu futuro. Acreditando nisso ou não isso infalivelmente irá acontecer. Por isso vim para não piorar ainda mais o teu futuro.”

“Muitas pessoas em teu lugar hoje me matariam,” disse o homem, “ pois nem todos tem a chance de conversar assim comigo como estas conversando.”

“Teu medo de ser fraco cria um medo maior nas pessoas, que terminam se afastando e assim tua solidão vai te tornando ainda mais frio e amargo para a vida, abrindo assim tuas feridas.”

“Como devo fazer para mudar isso. Eu ainda tenho uma chance?”

“Todos temos uma chance. O Grande Pai não esquece de nenhum dos seus filhos, mas tu tens que mudar de atitude perante o teu destino. Não tenhas medo de mostrar o ser que esta dentro de ti, que por um acaso agora esta se mostrando a mim. Não tenhas vergonha de aprender, não tenha as reações das pessoas. Lembras do primeiro dia, como tu me trataste? Eu não tive medo ou raiva de ti, mas não acreditei tuas imposições, o que me permitiu estar hoje aqui descobrindo, na verdade, quem tu realmente és.”

“Acho que tu és um feiticeiro velho, por isso te respeito. Sei que falas a verdade e jamais me esquecerei dela. Tuas palavras me cortaram mais que muitas espadas, porem a dor foi diferente, pois saíram coisas e sentimentos que ainda não conheço, mas sei que não são ruins.”

“Amanham logo ao amanhecer, irei partir, pois tenho outra missão a cumprir. Vendo que já entendeste nada mais tenho a fazer aqui. Quero saber se vais me deixar partir,” questionou o velho sábio.

“Sim, tu podes ir, pois sei que irás encontrar outro ser igual ou pior do que eu, mas antes quero te agradecer. Levas para ti e teu aprendiz alimentos, queijos, vinhos para tua viagem, afinal o que posso dizer de ti é que de alguma forma tu me mudaste.”

Ao amanhecer do outro dia bem cedo o velho sábio e seu aprendiz levantaram-se para mais uma jornada, aceitando os alimentos que o novo amigo lhes ofereceu. Missão cumprida, partiram par um novo destino. Em meio ao caminho o aprendiz pergunta ao mestre como ele sabia que o homem não iria matá-lo. O mestre respondeu: “E não sabia, meu menino, apenas deixei nas mãos de Deus e não me amedrontei como o destino.”

“Mas mestre, o que faz ter tanta certeza das coisas?”

“Acreditar que eles são o que desejamos, que seja isso o mais importante. Não é porque mil pessoas enxergam num homem um monstro que devemos enxergar também. Ao contrario disso podemos enxerga-lo como um ser necessitado de carinho, atenção e principalmente de orientação.”

“O senhor não vê mal nem nada, mestre?”

“Não é bem assim, menino. O mal é apenas uma conseqüência de ações equivocadas que ainda não encontraram respostas. Ele existe por muitas razões, porem a maior das razões é nos fazer enxergar o bem por trás das mascaras. Para que tu entendas o que estou falando vou explicar melhor. A grande maioria das pessoas perde seu tempo precioso condenando e julgando mal as atitudes daqueles que por ventura lhes fizeram algum mal e nem sabem que o ser que veio lhes fazer esse mal está na verdade pedindo seu ajuda. Sei que isso parece meio ilógico, mas pense da seguinte maneira. As pessoas que nos fazem mal já esperam uma reação covarde ou agressiva, mas jamais esperam por uma reação de compreensão.”

“Veja nesse exemplo: dois seres lutam arduamente à beira de um penhasco. Um é o ser bom, o outro é o ruim. Em determindado momento da luta o ser ruim escorrega e fica pendurado no penhasco. O ser bom vê sua consciência falar mais alto dizendo-lhe que se ele deixar o inimigo cair ele será tão ruim quanto ele. Ele então estende a mão e, mesmo a contragosto, sabendo que poderá se arrepender, ele salva o inimigo da morte certa. Dentro desse inimigo vão passar várias emoções que o deixarão confuso. A principio ele vai ter dois sentimentos: um de tristeza, outro de vergonha. A vergonha por achar que o outro fez isso para humilhá-lo e a tristeza por achar que não é capaz de fazer o mesmo que o outro fez.

Nesse momento é possível que o ser mal desapareça para esconder sua vergonha ou humilhação, ou ate mesmo deseje lutar contra aquele que salvou, justamente para não deixar testemunho de seu fracasso, pois teme a derrota mais que a própria morte, mas isso só até o momento em que alguém lhe traga a consciência. Na fuga ele poderá pensar de cabeça fresca e no futuro poderá entender o verdadeiro sentido do gesto de seu salvador e talvez então aprenda alguma coisa com aquilo que na verdade foi sua primeira vitória, pois só aquele que vê um aprendizado nas derrotas da vida pode se considerar um vitorioso de verdade. Entretanto o ser bom também aprendeu uma lição. A lição de que, independente de quem seja, devemos sempre lhe dar uma chance, pois se o Grande Pai faz as mudanças, os instrumentos delas somos nós. Agora tu entendes porque não devemos seguir sempre os sentimentos dos outros?”“

“Sim mestre, eu entendi, mas sei que ainda vou levar muito tempo para praticar isso, pois é uma coisa muito difícil, já que somos humanos e vivemos de emoções e essas são incontroláveis.”

“Aí e que tu te enganas, meu menino. Com o passar dos anos tua vivencia vai te dando experiência e tu vais adquirindo o controle sobre tuas emoções. Para isso basta viver e deixar o tempo passar, que as conquistas vão chegando na hora certa e antes que tu imaginas já terás aprendido tanto que terás mudado tantas vezes de opinião que nem terás percebido. Então, quando chegares à compreensão lembrarás, com saudade do tempo que já passou, onde os erros te ensinaram o caminho ate onde estarás então. Só então agradecerás por tudo que passaste e finalmente estarás pronto pra ensinar aos demais como alcançar o mesmo caminho. Então iras perceber como é fácil explicar. Só os olhos materialistas não conseguem enxergar essa verdade sem ter uma ajudazinha do destino e é ai que nos entramos, pois é o que hoje eu sou: a pequena mão que o destino coloca na vida dos que ignoram amor.”

Caminharam por aproximadamente dois meses e chegaram a uma montanha bem alta, onde havia uma caverna. Eles então pescaram num riacho e colheram planta e água fresca, pegaram gravetos e outros troncos de lenha e subiram ate a caverna para passar a noite ali. Anoiteceu e eles se alimentaram comendo peixes e bebendo chá quente. Mantiveram uma pequena fogueira acesa para aquecer melhor o ambiente.

Duas noites eles passaram ali e nada de anormal havia acontecido quando um barulho estranho de alguém cavalgando se fez ouvir. O mestre disso ao aprendiz para que se concentrasse em apenas ouvir. Pareciam homens falando, discutindo a vida de alguém e de fato era isto. Uma ordem veio numa voz fria e dura e em seguida ouviu-se apenas um grito. Alguém havia morrido. Os cavalheiros foram embora na noite nebulosa, que num instante criou uma tempestade no céu. A chuva caía forte e aqueles cavaleiros não iriam muito longe, pois o vento os conduzia para a morte certa.

Quando o dia amanheceu o mestre saiu bem cedo para o que se salvou e viu 3 cavalos ainda vivos e protegidos numa encosta. Os homens que os montavam haviam morrido, mas havia um cavalo, que por sinal estava morto. Então tinha que haver mais um corpo e em meio a alguns galhos de arvore o velho acho um homem todo arranhado, muito machucado, mas que ainda respirava. O velho chamou seu aprendiz e juntos eles levaram o homem para a caverna. Cuidaram também dos cavalos e os colocaram em segurança. O homem não lhes era estranho, muito pelo contrario. O mestre lembrava dele perfeitamente bem, pois jamais esqueceria a face do ser que cruelmente atacou e destruiu sua aldeia. Alem de ter matado tantos seres inocentes matou também seus pais. 15 anos já haviam se passado, mas a memória do velho sábio não o enganara. Era mesmo o seu velho inimigo. O aprendiz era muito jovem para se lembrar com tanta certeza daquele ser, mas algo dizia que ela ele. Nisso ele olhou para o mestre e disse: “Mestre, se esse homem é quem pensamos que é, por que não o damos as aves de rapina. Elas com certeza fariam melhor proveito desse ser.”.

“Não é assim que vamos nos vingar dele. Não é dessa forma que vamos aliviar o peso o que ele nos fez. Vamos curar suas feridas e quando ele estiver novamente apto a nos ouvir faremos então de fato nossa parte. Posso lhe afirmar que se ele morrer de nada vai nos ajudar, pois por nada terá pago e nem se arrependido.”

“Pois então não conte comigo para ajudá-lo a salvar um assassino,” retrucou o aprendiz.

“Tudo bem” disse o mestre, “eu o entendo. Pode deixar que eu farei tudo sozinho.”

Durante uma semana o velho sábio cuidou de seu antigo inimigo, colheu ervas e curou-lhe as feridas e enfaixou a perna quebrada, alem de mante-lo sedado com ajuda de algumas ervas que conhecia. Isso evitava que ele sentisse dor.

Nesses dias o mestre pensou muito no que aconteceu no passado e pedia a Deus paciência e sabedoria para lidar com aquela situação.

10 dias se passaram até que o homem pudesse ter uma certa consciência do ocorrido. Perguntava onde estava e o que havia acontecido. Aos poucos o mestre ia respondendo. Ele já podia sentar e se alimentar sem ajuda, mas ainda não podia andar. Tinha em seu semblante uma expressão dura e meio perturbada.

Um dia ele disse que queria ir embora para seu vilarejo, mas o mestre disso que ele ainda não podia ir. Ele então pediu ao aprendiz que o levasse e que seria bem recompensado. O aprendiz, revoltado ao ouvir tudo aquilo, lhe respondeu: “Como acha que pode me recompensar? Acaso pode me trazer minha família de volta? Você não se lembra, não é? Também, para você tanto faz quantos você já matou”.

“Do que esta falando”, perguntou o homem. “Eu não me lembro de você”.

“Mas seria impossível mesmo você se lembrar. Eu era apenas uma criança, mas do mestre você deve lembrar. Olhe bem para a cara dele e quem sabe você se lembra de onde você nos conhece”.

Nesse momento o sábio apareceu para saber o que estava acontecendo ale e logo percebeu o que se passava. O homem então perguntou: “Por que me salvaram? Por que não me deixaram morrer? Acaso vão me torturar, me punir de alguma forma? Então me digam logo como vai ser”.

O velho sábio disse: “Não me julgue como julga a você. Se está vivo é porque assim o Grande Pai deseja, pois tem um propósito para você que obviamente ainda desconhece, mas posso ajudá-lo a entender esse propósito. Basta apenas que tenha paciência.”

“Muita gente gostaria de estar no seu lugar, pois seria muito fácil se vingar de mim”, disse o homem. “Por que você acha que pode me mudar?”

“Eu não quero mudá-lo. Vou apenas lhe ensinar o que você não sabe e depois disso você seguira seu caminho, pois não serei eu o seu carrasco, mas sim sua própria consciência.”

“Na verdade você tirou a vida de muitos seres e nem se importou em saber que vida e sentimentos tinham esses seres, mas agora eu vou lhe falar tudo o que precisa saber. Na verdade vou fazer melhor. Vou apresentá-lo ao mal que você fez a tantas pessoas. Vou lhe apresentar a dor do amor, porem tudo que quero de você é que se mantenha em silencio, pois pra mim custa muito ouvir tua voz e só Deus sabe o quanto me contenho para lhe dar essa chance de conhecer a verdade que me dói.”

“No passado de 15 anos atrás, para ser mais exato, eu e minha família vivíamos em paz e acreditávamos numa convivência tranqüila entre os seres humanos. Meu pai era um homem sábio, que respeitava a vida e tudo que a natureza criou. Seus conhecimentos iam alem dos pensamentos humanos, pois ele tinha o dom de avaliar a alma das pessoas e direcionava-as no caminho da busca do equilíbrio. Ele me ensinou tudo o que sei e poderia ter lhe ensinado também se você tivesse conhecido antes de matá-lo tão cruelmente. Minha doce mãe era uma mulher feliz, que sorria ate para os obstáculos da vida. Com ela aprendi a não condenar meu destino e nem ninguém. Aprendi com ela a tirar proveito das dores e assim aprender mais com elas. Ela não conhecia raiva ou ódio, pois acreditava que um sorriso verdadeiro iluminava qualquer escuridão e nisso eu também acredito, mas sua maldade tirou de mim aquele belo sorriso que muito bem haveria de lhe fazer se você tivesse permitido conhece-la. Durante anos de sua vida você foi matando seres sem se perguntar quem eram como vivam e o que sentiam e sabe por que você fez isso? Porque é um covarde que tem medo de ser feliz. Assim mata todas as chances que a vida lhe dá de encontrar a felicidade. Você não passa de um prisioneiro da própria ignorância, pois acha que sabe tudo quando nada sabe. No fundo você mata por medo de encontrar alguém que lhe fale exatamente o que hoje estou lhe contando. Dentro dessa sua prisão não entra amor, pois você teme conhece-lo. Teme saber que ele á mais forte que você e que não poderá matá-lo ou controla-lo se ele em ti nascer. Por essa razão você prefere as trevas da sua vida sem alegria e sem cor. Uma pessoa como você não sabe que perfume tem uma flor, não conhece a beleza de um canto de pássaro livre. Acredito que você jamais ouviu um ‘eu te amo' verdadeiro, pois se tivesse ouvido com certeza você teria mudado o seu mundo já teria lhe ensinado um pouco de amor. Mas agora vou lhe falar de dor, uma amiga intima sua, pois no fundo você não sabe, mas vive na dor, pois quem mata um sorriso é um ser infeliz e o ser infeliz vive na dor de não ser amado e ainda acha que todos o respeitam. Pois eu lhe afirmo que ninguém respeita alguém como você. Quando muito as pessoas o odeiam alem de temerem, pois tudo que você planta se tem espinhos e você é o único a valorizá-los. Em suma, você é o ser mais condenado, mais sem valor e somente você é culpado pela sua própria desgraça. Só você é o maior prejudicado. Agora vou lhe falar do destino. Sabia que as pessoas que morreram pelas suas mãos apenas cumpriram o destino delas, pois se não fosse você seria outra pessoa. Esses seres nada mais devem a você e, o que é melhor, agora eles não sofrem mais, não conhecem dor ou tristeza, pois você lhes deu o paraíso e por ironia é o inferno que o espera, pois você ainda esta vivo, ainda sente dor, fome e tristeza, ainda viverá para tudo isso, pois tudo que tirou desses seres inocentes também será tirado de você. Seja hoje ou em outra vida terás o troco do destino implacável. Eu aqui estou fazendo o papel de sua consciência. Por isso são serei eu que irá matá-lo, mas deixo isso para tua consciência, que melhor torturador não há e nem mesmo tua espada poderá matar essas palavras, nem os anos poderão apagá-las, pois agora vocês as conhece e elas irão insistir em viver na sua mente te lembrando de tudo que fez com as chances de ser feliz que você matou.”

“Porque você não ponderou antes de errar?, sua mente vai questionar. Por que rejeitou tantas chances de mudar?, sue coração frio vai perguntar. Ate que chegará o dia em que você não irá suportar todos os fantasmas dos seres que você matou e que irão surgir à noite para o atormentar, mas não serão os seres que você matou e sim os seres do umbral que você, com sua maldade, cativou. Eles virão lhe fazer o mesmo que você fez aos inocentes e um pouco mais. Você então morrerá e irá para lá morar junto deles e quando isso acontecer você irá morrer dez vezes ao dia e essas mortes serão de várias formas, até que você não suporte mais e então deseje morrer de vez.”

“Para que você entenda isso vou lhe falar da alma. Se você pensa que seu corpo já sofreu o bastante aqui nessa existência você se engana muito, pois o maior sofrimento ainda o aguarda quando você abandonar seu corpo físico. Você será castigado por todo mal que fez e como todo mortal a parte imortal a parte mortal sofrerá todas as dores que você nem ao menos imagina. A parte imortal o proíbe de morrer e acabar com essa dor e para piorar o seu estado você terá muitos carrascos, que irão representar seus erros enquanto viva na Terra e quanto pior for seu erro pior será seu carrasco, pior então será sua tortura. Então você sofrerá por longo tempo e para você serão dias intermináveis, eternos. Até a hora em que o Grande Pai, em sua infinita bondade, lhe enviar seres para auxiliá-lo. Mas você terá que se mostrar disposto a mudar para obter esse auxilio, caso contrário permanecerá no seu cárcere de torturas ate que se arrependa do tudo que fez e quando isso acontecer você receberá uma nova chance, quando irá renascer em meio á queles que sofreram por tua causa. Então poderá eliminar suas dívidas com eles e até poderá ser feliz e, quem sabe, será amado. Agora percebe porque eu não o mato? Porque não lhe tenho raiva ou sentimento algum desse tipo? Agora entende que só você foi capaz de destruir sua própria existência, sem ajuda de mais ninguém?”

“Hoje me sinto aliviado por fazê-lo conhecedor da dor que um dia me causou. Sinto-me aliviado por saber que agora você é um ser consciente e que a minha batalha interna terminou. Um dia eu jurei a mim mesmo que iria te ajudar a ter consciência do mal que faz, pois um ser que faz tudo que você faz só pode ser uma pessoa inconsciente da dor, da alegria, do amor de Deus, mas agora você já sabe de tudo isso. Antes tua consciência não podia puni-lo, mas agora ela já sabe e ela será o seu carrasco. Sem usar arma alguma vai te ferir e eu lhe desejo muito mais. Desejo que você conheça o amor, que se apaixone perdidamente, loucamente. Somente assim sua consciência irá lembrá-lo da dor que causou em outros seres. Cada abraço que você receber vai lembrá-lo de seres que você tirou dos braços de alguém, cada beijo que você receber fará lembrar de alguém que até hoje espera por outrem cuja vida você tirou, cada filho seu te lembrará os filhos que fizeram órfãos, sem pai nem mãe”

Com vos sonora e tranqüila o velho mestre continuava a dar consciência ao homem que lhe tirou os pais, ate que um grito angustiado, abafado em lagrima, disse: “Pare, por favor, pare! Eu já entendi o que quer de mim, mas não me torture mais. Eu estou cansado.
Suas palavras me confundem, me trazem dor, solidão, sentimentos estranhos. Não os conheço, mas se queria me ferir por que não me matou? É muito mais fácil.”

“Agora você entende porque não quero te matar ou ferir? Não, eu acho que você não entendeu. Seus sentimentos acordaram junto com sua consciência e serão ele que irão feri-lo ou ajuda-lo a mudar. Eu nada mais tenho a te dizer e mesmo que me mate eu já cumpri minha missão. Agora sé depende de você, ou melhor, da sua consciência. Agora está livre da ignorância que o cegava e sendo assim deve seguir o seu caminho para que as malhas do destino o encontrem. Amanhã bem cedo o montarei em um cavalo e o deixarei bem perto do seu vilarejo. Então seguirei meu caminho em paz, sabendo que fiz minha parte por ti.”

No outro dia bem cedo o velho mestre cumpriu o prometido. Montou o antigo inimigo em um cavalo e o conduziu ao local mais próximo que podia da aldeia e lá disse: “Agora você e seu cavalo podem achar o caminho. Daqui não há mais como errar.” Assim falando virou as costas e começou a caminhar quando ouviu a voz de um homem lhe dizendo: “Sei que não pode me perdoar pelo que fiz e com certeza não sou digno de seu perdão, mas quero que saiba que eu entendi o que quis me ensinar. Não sei o quanto tudo mudou em mim, mas posso lhe afirmar que mudou.” Com essas palavras ele seguiu seu caminho e o sábio continuou sua missão.

Ao voltar para a caverna pediu a seu aprendiz que se preparasse, pois iriam partir logo ao amanhecer do outro dia. O aprendiz, envergonhado, mal conseguia dirigir a palavra ao mestre, mas sabiamente o distraiu daquela situação. A noite chegou e, encorajado, o aprendiz do mestre se aproximou e disse que precisava conversar. O mestre então disse: ”Fale, meu garoto, o que tanto o incomoda?”

O aprendiz então disse: “Mestre, há muitos anos o senhor ainda cuida de mim e nesse tempo todo sempre tentei me espelhar em sua sabedoria, em seus ensinamentos. Suas palavras têm me sido um grande bálsamo milagroso. Nesses anos todos jamais o vi lutar com alguém. Mesmo sabendo e conhecendo tantas habilidades que deixariam qualquer adversário desconsertado eu jamais o vi usar um golpe sequer para ferir ou machucar qualquer ser vivo. Durante o tempo em que o senhor me ensinou os segredos das artes marciais eu acreditava que um dia de fato poderia ser seu seguidor. Aos poucos fui tendo certeza disso, pois vi meus amigos aprendizes partindo um a um e só eu fiquei. Sei que eles tinham um destino a cumprir e eu não sou juiz para julgá-los, mas desde que o senhor resolveu fazer essa jornada cumprindo sua missão minha vida mudou muito com tudo que tenho visto e presenciado. Particularmente muitas vezes afirmo que tive medo e muito pouca confiança quando me encontrei diante de situações que ainda não havia passado. O senhor tem sido sempre muito paciente comigo e confesso que muito tenho aprendido com tudo que tive o privilégio de passar ao seu lado, mas descobri que um sábio já nasce feito e eu jamais serei com o senhor, mestre, pois eu jamais pensaria ou faria o que o senhor fez para aquele homem que tirou nossas famílias de nós. Após ouvir tudo que o senhor falou a ele eu mesmo me envergonhei de ter pensado em deixá-lo morrer. Só agora eu entendo que o senhor o matou dando-lhe o direito de sobreviver para conviver com a consciência pesada pelos seus erros. Hoje sei que ele não irá encontrar na vida castigo melhor, pois nenhuma espada é tão afiada quanto à luz da verdade, mas com tudo isso não sei se eu sou a pessoa certa para ter a honra de substituí-lo. Dentro de mim ainda há instintos ferozes e eu ainda não sei doma-los. Tampouco tenho tanta sabedoria quanto o senhor e além de tudo ainda sou covarde, pois o medo ainda mora dentro de mim. Me perdoe, mestre, mas não posso mais ser seu aprendiz.” Em lagrimas o aprendiz terminou.

O velho sábio o olhou e após ter analisado cada palavra o mestre se manifestou: “Meu jovem aprendiz, você ainda tem muito que aprender nessa sua vida, mas o primeiro passo você já deu. Reconhecendo suas falhas você aprende a lidar melhor com elas. Passa a conhecê-las mais profundamente e tira de dentro de se o peso muito grande de mantê-las guardadas por tanto tempo. Quando revelamos a verdade sobre nós mesmos nos damos asas e nos libertamos das máscaras que a sociedade nos infligia, mas precisa saber que nenhum sábio já nasce sábio. Somente o destino e as inúmeras reencarnações podem trazer sabedoria a um homem, mas ela só retorna completamente em momentos em que se faz necessário. Por isso não se obrigue a saber tudo. Sempre deixe que o tempo lhe mostre a hora certa para isso.”

“Viva o dia de hoje sem cobrar o próximo antes que ele chegue, aceite as pedras para mais tarde recebe-las como ganho, não julgue para não ser o próximo a ser julgado e mesmo que seja julgado não condene seu juiz inconsciente. Sorria e demonstre, não só para os outros, mas para si mesmo, que na vida existe alegria e que nem tudo são trevas ou solidão. Por mais que seja sua dor não a alimente nem a condene, aprenda com ela tudo que ela possa lhe ensinar.”

“De você eu não espero perfeição, pelo contrário. Espero que erre e com isso saiba aprender. Agora quanto ao seu destino ao meu lado você faz o que quiser, pois a nada quero obrigá-lo. Se quiser comigo continuar, faço-o por livre e espontânea vontade. Amanhã bem cedo eu partirei para aquela que talvez seja minha penúltima missão e se quiser ir comigo esteja à vontade.”

O sol começava a dar luz ao novo dia quando o mestre e o aprendiz partiram juntos em direção a uma nova missão. Caminharam por um mês ate chegarem a uma grande vila. Procuraram um lugar para ficar, mas ninguém se oferecia para dar-lhes guarida até que anoiteceu e todos se refugiaram em suas casas. Foi quando apareceu uma senhora de pele escura convidando-os para pernoitarem em seu humilde lar. Eles aceitaram e seguiram a senhora ate uma casa muito simples em relação às outras, que chegavam a ser pomposas. Ela ofereceu alimento para eles matarem a fome e lhes ofereceu um canto no chão junto aos seus filhos, que também não tinham cama. O dia amanheceu e a senhora ofereceu ao mestre e ao aprendiz uma água quente que não tinha gosto. O mestre agradeceu a hospitalidade e bondade daquela humilde família. A senhora perguntou a ele o que faziam ali naquela vila. O velho sábio respondeu que estava ali para cumprir uma missão e que já saiba qual era. Ele pediu a ela que o levasse ao mercado da vila, pois tinha que fazer algumas compras. Ela o olhou assustada e disse:”Não posso levá-lo, apenas lhe ensinar o caminho.” O mestre a olhou profundamente e perguntou: “O que te aflige, mulher? Por que não queres ir comigo a um simples mercado?” Nesse instante uma das meninas que estava do lado da mãe respondeu: “Me desculpe, senhor, mas minha mãe seria maltratada se parecesse na rua a essa hora do dia. Os brancos dizem que somos a vergonha para eles, pois nossa pele é escura com ao noite e no meio deles somos sinal de mau agouro. Por isso nos desculpe, mas não podemos sair durante o dia. Só podemos andar pelos campos onde eles não nos vêem. Nossa alimentação somos nós mesmos que cultivamos na pouca terra que temos e o resto algumas pessoas que gostam de nós costumam trazer durante a noite para que os outros não vejam.”

“Essas são as condições para vivermos em paz,” terminou a mãe da garota.

O mestre então perguntou a ela: “A senhora gosta de viver dessa maneira?” Ela respondeu: “Desde que meu marido morreu minha vida e dos meus 3 filhos tem sido esse sofrimento. Enquanto ele era vivo ele tinha controle dessa situação, pois era rico e o povo o respeitava. Nem reclamaram quando ele me trouxe da África. Me consideravam uma criada dele, mas ele jamais me tratou assim. Sempre me protegeu e fez com que me respeitassem, mas há 5 anos ele partiu da vida com uma doença grave que o consumia. Pouco tempo depois entraram em minha casa, tiraram-nos dela e nos deram esse buraco, que nos esconde da vida lá fora. Como sou mulher e vivia com 3 filhos, não tive outra escolha e hoje, se um de meus filhos sair na rua, pode ate mesmo ser esquartejado. Com tudo isso o senhor acha que gosto dessa vida? Não, eu não gosto, mas nada posso fazer para mudá-la. Por isso tenho que aceita-la sem reclamar para não piorar ainda mais minha situação.”

“Eu estou aqui para mudar a sua vida”, disse o mestre, “mas para isso você terá que confiar em mim e aceitar minha ajuda, senão nada poderei fazer”.

“Mas como um desconhecido como o senhor pode mudar uma vila inteira, como vai mudar a forma de pensar dessas pessoas?”

“Apenas faça o que eu lhe pedir e não tenha medo”, disse o mestre.

“Desculpe-me, mas não tem como não ter medo, pois ate hoje ninguém teve coragem de nos ajudar, justamente por medo.”

“Prometo que mal algum lhe farão, nem a seus filhos, porém você terá que se calar e não responder a ignorância de todos. Deve deixar que eu responda por você. É tudo que lhe peço para mudar a sua vida.”

“Conte-me o que queres que eu faça e eu prometo tentar,” disse a mulher.

“Quero apenas que venha comigo ao mercado e lhe mostrarei como mudar a sua vida. Se tem tanto medo deixa seus filhos em casa e venha sozinha comigo e prometo que voltará inteira e livre para sua casa.”

“Tudo bem, eu vou com o senhor. Acho que já não tenho mais nada a perder. Tudo que já tive de mim foi tirado. Acredito que já não tenho mais nada que ainda queiram tirar a não ser minha própria vida.”

Falando assim ela aceitou ir ao mercado com o mestre e quando eles viram as ruas movimentadas por senhoras bem vestidas e seus filhos, que se dirigiam ao grande mercado ao ar livre, ela quis recuar, mas o mestre disse: “Se desistir agora jamais saberá o que teria acontecido se resolvesse continuar.”

Quando as pessoas deram pela vista que a senhora negra estava andando na rua àquela hora foram logo ao seu encontro como cachorros loucos em busca da caça. Pararam diante dela e do mestre e foram logo soltando a língua afiada e maldosa. Chamaram-na de negra suja e outras palavras ainda mais cruéis. Antes que elas prosseguissem com a humilhação o mestre falou em um tom serio e forte: “Ela esta comigo, senhoras, e para continuar a ofendê-la terão que me contar o mal que ela fez para merecer tal afronta.”

“Ela não é como nós não tem a educação que temos, não pertence a nossa sociedade. Esta aqui só para causar vergonha.” Falavam as mulheres desordenadamente. O mestre perguntou a todas: “Por um acaso as senhoras estão realmente sendo educadas nesse momento?” Nesse instante todas o olharam como que chocadas com tal indagação.

O mestre não perdeu tempo e continuou, dizendo: “Minhas senhoras, o que vejo aqui é um bando de mulheres finas, bem educadas e com muito requinte fazendo papel de crianças birrentas. O que percebo é que as senhoras atacam essa mulher só para alimentar a ignorância que as consome e no fundo ainda acreditam ter algum brio agindo dessa maneira. Pois agora eu as convido a conhecer a boa educação”. Nesse instante uma das mulheres interrompeu dizendo: “Acaso o senhor pensa que somos indignas quanto essa que o senhor protege?” “Não foi isso que eu falei, minha senhora. Julgo que ainda não tenha sabedoria para entender sem se sentir ofendida, mas se de fato quer saber venha junto com suas amiga. Sigam-me até o campo, onde vamos decidir quem merece ou não andar pelas ruas de sua vila.”

O grupo de mulheres orgulhosas seguiram, seguiram, meia a contragosto, o velho sábio até o campo, onde passava um riacho puro e cristalino. O mestre pediu que elas sentassem e se pudessem, gostaria que primeiro o ouvissem e depois então tirassem suas conclusões. Após uma hora de controvérsias enfim elas entraram num acordo e resolveram ouvir o que o mestre tinha a dizer.

“Senhoras, eu gostaria que toda olhassem para essa grama verde, para essa água pura e todas essas belas arvores que agora lhes dão sombra. Olhem bem para tudo isso e me digam onde tudo isso as envergonha.” Elas riram sarcasticamente e responderam sem demora: “Nada disso nos envergonha”.

“Então me respondam quem criou tudo isso.”

Elas responderam: “Deus é claro.”.

“Quem criou as senhoras, podem me responder?”

“O senhor só pode estar brincando conosco. Deus é o Criador, não há quem não saiba disso ou só sendo um ignorante para não sabe-lo,” responderam as senhoras.

“Minhas senhoras, por um acaso algumas das senhoras teve o privilégio divino de ver ou ouvir Deus dizendo-se envergonhado com qualquer criação sua?” Essa pergunta ficou sem resposta. O mestre então resolveu continuar.

“Eu acredito que aqui nenhuma das senhoras já teve o privilégio de falar com Deus. Olhando por esse ângulo, o Grande Pai não se envergonha ou nega suas criações, por que nós então fazemos isso? Com que direito avançamos sobre o destino de um ser vivo sem termos sido convidados? Que integridade de fato podemos ter quando roubamos literalmente a integridade de alguém? Que bondade é esta que existe em nosso coração que nos impede de fazer o bem a alguém? Que virtude de fato temos quando olhamos os outros com os olhos do pecado? Que direito temos de clamar pela bondade de Deus quando nosso egoísmo mesquinho nos impede de dividir? A não ser que não tenhamos pecados ou cometido erros, porem os erros alheios nos são mais visíveis, pois então sempre diante dos nosso olhos. Já os nossos se escondem por trás do nosso orgulho na falsa tentativa de nos mantermos puros diante de nossos demais irmão. Entretanto jamais se esconderão de Deus, pois Ele felizmente toda a verdade conhece e se Ele, que é o ser Supremo, não nos condena, por que puxamos para nós uma responsabilidade que é só o destino. Acaso agora somos anjos ou emissários do Senhor?”

“Agora quero que saibam que tudo que fizeram a essa senhora e seus filhos será cobrado das senhoras no futuro, pois essa é a lei divina: o mal que você faz ao teu irmão você acumula duplamente para ti mesmo.”

“Esse tempo todo que as senhoras passaram a ignorar esse ser perderam a chance de conhecê-la de verdade, e o que é pior, fecharam os olhos para o fato de estarem alimentando a própria ignorância. Assim esqueceram dos ensinamentos do Grande Pai, aumentaram a lista de pecados de cada uma, sendo então obrigadas a aceitar sem reclamação a mão dura do destino que virá feri-las no futuro e só Deus sabe qual será o tamanho da dor de vocês e que cor de pele terá o ser que irá surgir para lhes ajudar nesse momento de provação e desespero. Quando esse dia chegar à vergonha irá cobrir a face de cada uma com a dor da lembrança que tortura a consciência.”

“Para piorar esse momento vocês irão se lembrar que um dia vocês também já tiveram essa cor na pele e esse dia será quando vocês morrerem e deixarem esse corpo preconceituoso para a terra comer. E quando vocês chegarem ao hospital espiritual irão se deparar com as revelações fatídicas de um passado que hoje adormece em suas mentes e por serem tão ignorantes ainda não podem lembrar. Porém não tem importância, pois querendo ou não esse dia chegará para todas vocês. Como o tempo é infalível à evolução também o é”.

“Tudo que as senhoras de fato representam para Deus está registrado nos atos de amor e fraternidade que podem fazer enquanto estão vivas. Vossos corpos nada mais são que vestimentas para vossas almas, quem tem que cumprir uma missão e acreditem nisso, pois se vossos corpos físicos fossem puros e santos não adoeceriam nem teriam que ser trocados a casa encarnação. Se tivessem tanto valor não seriam jogados em um buraco quando a vida já não habitas neles, não exalariam odor tão forte quando ainda estamos vivos, não teríamos que alimentá-los, banha-los, etc. Então agora me digam: de que vale a cor de vossas peles quando o verdadeiro aprendizado quem absorve é a alma e essa não tem cor?”

A essa altura da conversa as senhoras já estavam todas de cabeça baixa escondendo a vergonha e nada respondiam ao mestre. Vendo isso o mestre então chamou a senhora negra ao centro e mostrou-a às outras dizendo: “Olhem agora para essa mulher e me apontem seus defeitos, vocês que de tanta ignorância não entenderam uma única palavra do que falei.” Não se sabe se por medo de se mostrarem ignorantes ou se de fato elas entenderam, mas nenhuma falou absolutamente nada. Como se estivessem tocadas pela própria consciência algumas se levantaram e pediram desculpas a mulher negra. A partir desse dia tanto ela quanto seus filhos puderam andar livremente nas ruas do vilarejo e não foi só isso que mudou. Ela obteve sua casa de volta e pode viver dignamente com outrora havia vivido. É claro que nem todas aceitaram logo de cara, mas aquelas senhoras que ouviram e sermão que o mestre deu passaram a defendê-la das demais a aos poucos as ignorantes se tornaram insignificantes para a sociedade justa, que terminou por ser a maioria. Terminada essa missão o mestre passou um mês naquela vila até que tudo realmente mudasse.

Chegou então à hora de ir embora e revelar seu grande segredo ao seu aprendiz. Ele então se despediu da vila, que lhe agradeceu muito pelos conselhos que deu a todos, mas particularmente alguém queria muito lhe agradecer. Aquela senhora negra e seus filhos tinham muito a dizer a ele e foi isso que fizeram. Ela foi ate ele para lhe agradecer a liberdade e a nova vida, mas principalmente a dignidade readquirida, a capacidade de voltar a lutar pelas coisas da vida e a vontade de sonhar de novo. “Recuperei meu respeito próprio, redescobri meu valor. Não sei o que teria sido de minha vida sem o senhor”, disse a mulher ao mestre. Ele então respondeu: “Não se preocupe, minha irmã, essa é apenas mais uma das tantas batalhas que você enfrentou e pode ter certeza que contou tanto na minha vida quanto sei que contou na sua. Nada me deve senão aquilo que com confiança me pagou.”

Falando assim o mestre partiu com seu aprendiz e trilharam novamente o caminho em busca de uma nova missão.

Em meio ao caminho o mestre sentou-se numa pedra para descansar um pouco. O aprendiz, ao seu lado, também sentou. Era uma bela tarde, o sol brilhava refletia seu dourado no lago verde, a brisa suave fazia balançar as arvores floridas indicando a primavera, pássaros cantavam alegremente. O mestre olhou tudo ao seu redor com um olhar de quem vê tudo pela primeira vez ao mesmo tempo com um olhar de quem diz adeus. Dirigiu a palavra a seu aprendiz perguntando-lhe se ele estava pronto para entrar na vida. Este olhou o mestre e, assustado, perguntou: “Por que estas me fazendo essa pergunta, mestre?” O mestre então disse; “Meu caro menino, tu não precisas mais de mim, pois tudo que precisavas saber eu já lhe ensinei. O diploma agora só depende de ti mesmo. Todas as armas agora estão dentro do teu próprio coração. Cabe a ti saber a hora de usa-las ou não. Teu caminho agora só depende dos seres que vão surgir e de ti. Por mais que tu não te sintas pronto só tentando é que irás de fato saber e uma hora essa oportunidade tinha de aparecer.”

Nesse instante o aprendiz interrompeu dizendo: “Mas mestre, eu não saberei viver sozinho. Não sei como agir diante dessas situações. Como vou saber se agi certo ou errado? A quem vou recorrer?”

“Acalma-te. Todo principio é confuso e cheio de novidades. Em primeiro lugar não te julgues sozinho. Há mais seres só teu lado do que a tua simples visão terrena possa alcançar. Quanto às situações que teu destino irá te impor não as tema, apenas as aceite. Com calma e paciência tu saberás o que fazer. Basta que aprendas a confiar mais em tua voz interior e lembrar-te que para escutá-la é preciso fazer silencio, silencio que tu encontrarás na tua alma. O certo e o errado o tempo irá te ensinar melhor do que eu te ensinei, pois eu fui apenas tua teoria, ele será a tua pratica. Mantenha uma equilibrada com outra e terás sempre a resposta certa. Quando a quem tu deves recorrer não te perturbes, pois no mundo não existe melhor conselheiro que teu coração ou tua própria consciência. No teu intimo tu já sabes que não podes mais viver seguindo apenas meus passos, pois alguém tem que seguir os teus, mas para isso tu precisas deixá-los no caminho como eu fiz contigo. Um dia eu temi tudo isso tanto quanto tu temes hoje, mas a cada dia que nascia de novo eu também renascia mais experiente e mais consciente da minha missão”.

“Tu só não deves esquecer que não és perfeito, mas podem ser perfeitas tuas ações. Deves cuidar para que aquilo em que tu acreditas não te decepcione antes que tu possas ver o resultado final de cada avaliação.”

“Não precisa ser um gigante para enfrentar grandes batalhas. Apenas conheça a verdade e saiba usar as palavras com consciência e sabedoria.”

“Jamais participe das corridas pela ignorância nem te perturbes se por isso fores chamado de tolo. Deixe que o destino dê espelho a quem não tem.”

“Não temas as dores do corpo, pois essas tu aprendestes a controlar, mas lembra-te que a dor da alma não tem remédio químico que resolva. Nem ervas nem vícios podem acalmá-la. Nessa hora somente a paciência poderá te ajudar a buscar no teu silencio interior a resposta milagrosa. Não te adiantes em julgar nenhum ser vivo para que não se adiante também teu julgamento. Não deseje alem de tuas necessidades para que não falte mais tarde. Seja autentico, mas saiba usar a verdade para que essa não se transforme em obstáculo.”

“Mantenha sempre tua fé e acumule sempre mais, pois fé nunca é de mais, nem pesa ou aumenta a bagagem. Siga sempre em direção ao teu destino, mas não te esqueças de ser feliz, pois a alegria é parte primordial da confiança que nos liberta. Um sorriso verdadeiro transmite verdade e confiança, quebra barreiras e destrói obstáculos. Com todas essas armas tu estarás sempre protegido e dessa forma o mal não te afligirá tão facilmente e agindo assim tu alcançaras o caminho que tanto almejas.”

“Agora precisas seguir o teu próprio destino, fazer tua própria história, realizar teus sonhos e para isso não precisas mais de mim, pois em tua realidade não posso mais viver. Essa agora só depende de como você a vê. Por tudo isso entenda que preciso te deixar partir para que possas provar a ti mesmo que aprendeste, que és forte e capaz.

“Teus caminhos, tu sabes, não terão só espinhos, mas não te enganas com as flores. Lembra-te que elas são uma forma de alívio para as dores, mas algumas só aparecem para esconder os espinhos. Não te deixes enganar com aquilo que teus olhos vêem. Saiba avaliar aquele que te condena, pois ele nem sempre esta te maltratando. Muitas vezes pode apenas estar te apontando um erro a ser corrigido.”

Ao falar nisso o mestre tirou de seu bolso um pequeno caderno e deu a seu aprendiz pedindo a ele que o abrisse e lesse e quando o aprendiz abriu o pequeno livro percebeu que nele estava escrito tudo que já havia aprendido com seu mestre. Ale estava à história de sua vida até o dado momento e a ultima palavra era “continue”. Ele então olhou para a pedra onde o mestre estava sentado e não o viu mais. Ele havia sumido sem deixar rastros nem vestígio algum. Como num passe de mágica o mestre invisível ficou e, mesmo triste, o aprendiz sabia que, de alguma forma ou de outra, ele estaria a observá-lo e ajuda-lo, mesmo que ele não o visse mais.

È esta a forma mais clara de aprender a lutar sem usar armas. Toda a luta corporal ou sangrenta é uma forma de ignorar a sabedoria que todos nós temos. Quanto mais se luta, mais raiva se cria das pessoas e do mundo, mais tempo se perde na cegueira da maldade, mais tempo demora-se para aprender e para evoluir na sombra pacienciosa da verdade.

 

Extraído do livro Um Presente que veio do Passado
Inpirado por Lo 'Ramp
Páginas 163 a 183

 

<<< voltar para a página anterior